Navegantes da Lua, lost in translation


Era eu um pouco mais que um pedaço de gente, quando foi introduzido na minha vida, o anime mais épico que alguma vez passou por Portugal (talvez apenas equiparado ao Dragon Ball mania dos anos 90). Falo, claro, das Navegantes da Lua, exibido em 1995, pela SIC, no popular Buéréré, apresentado pela nossa “querida amiga” Ana Malhoa nos seus shorty-shorts e pula-pula desenfreado (não, não é o “pula-pula” da Luciana Abreu…).

Na altura, eu não fazia a mínima ideia de que aqueles desenhos animados, que passavam na televisão, faziam parte do gigante que é a cultura manga e anime. Eu via uma rapariga um pouco tola, com totós gigantes, com um gato preto e tendência para o histerismo. Mas, apesar de a voz esganiçada da Bunny Tsukino provocar-me dores de cabeça, eu consumia, avidamente, episódio atrás de episódio. Era novidade, diferente e de certo modo, viciante. Todas as minhas amiguinhas tinham a sua Navegante preferida (a minha era a Navegante de Marte) e os cadernos rabiscados com desenhos de bonecas com pernas longas de avestruz, de uma ponta à outra. Os episódios, completamente desprovidos de senso comum, sucediam-se uns atrás dos outros, com o mesmo padrão. Monstro aparece, rouba energia do “amor das raparigas apaixonadas”, Bunny Tsukino muda de roupa, chora um pouco, aparece o Mascarado e… 

Ai… o meu querido Mascaradoooo! Chegava sempre no momento certo e pimba!, rosa espetada no chão e pelo poder “do amor da rapariga apaixonada” e claro, da lua, a nossa heroína ganhava coragem e derrotava o monstro de um só golpe. O Mascarado esse, saía com grande pompa, como se tivesse feito algo realmente útil e deixava para trás uma Bunny mais histérica que o normal. 

Hoje, já adulta e mãe de filhos (vá, de um filho), revejo a primeira season em japonês e fico assim com uma estranheza no peito. A sensação de que falta algo. Até que me atinge um raio de lucidez: a Bunny não era mais histérica? A Luna não era um gato? Como era mesmo que o Gonçalo (aka Mascarado) chamava à Bunny? Ah! Sim! Cabeça de serradura! Tomo agora como missão de vida (ou pelo menos até a sesta do puto acabar), de encontrar a série, com as dobragens em português dos anos 90.

Oh! Que delícia! Digo… que horror! Que flagelo à versão original… O que o departamento de dobragens fez naquela época, hoje em dia poderia ser considerado um crime. Pelo menos, por nós, os geeks com a mania da integridade (ou algo assim). Para além dos nomes que decidiram, aleatoriamente, dar às personagens (talvez tenham feito um sorteio de rifas?), as bacoradas, que dão por nome de diálogos, são cada uma pior que a outra: um monstro chamado Rute Rita, referências ao Rogério Samora, à Lili Caneças (ou Canecas), ao “Zumba na Caneca” e a quantidade de disparates que enchem cada episódio com puro barulho e zero de conteúdo. O fartote que não devia ser, naquele estúdio de gravação! Consigo até imaginar: entra António Semedo (voz de Luna) com o script na mão, agarra num isqueiro e queima tudo. Fernanda, Isabel e as duas Cristinas olham-no horrorizadas, mas só por uns momentos, em um não tarda já se abriram duas ou três garrafas de Vodka e só falta mesmo, para completar a festa, o bailarico do João Baião do Big Show Sic, que, já agora, também é referido logo nos primeiros episódios…

Apesar de tudo, guardo com carinho, ao que foi a minha introdução ao mundo Anime. Mesmo que tenha sido com esta versão atontada das Navegantes da lua, modo lost in translation.

Navegantes da Lua, lost in translation
Criado por:
Lançamento/Término:
Género(s):
Catarina Loureiro
Escrito por:

Autora. Artista. Cismadora.

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