Acho que o mundo todo ficou a conhecer o que aconteceu verdadeiramente em Chernobyl graças a esta série. O turismo desta zona subiu, o interesse aumentou e muitas perguntas se formaram. Somos assim tão degenerados? É o ser humano tão egoísta ao ponto de não se importar com aquilo que o rodeia?
Primeiro há que dar valor à HBO por ter criado esta mini-série com apenas 5 episódios, sendo que a qualidade deles é muito acima da média. Vou ser franco e dizer que não comecei a ver por causa do hype que agora se envolta em tudo o que são redes sociais, ou os ratings elevados, quase no topo, que esta série recebera. Foi apenas um amigo meu de faculdade, que por acaso é de lá perto, da Moldávia, que me recomendou, logo quando saiu. E ainda bem que o fez, pois Chernobyl já me tinha passado pelos ouvidos, mas nunca aprendi ou soube o porquê de ser uma zona tão conhecida.
Então, esta série basicamente recria e retrata aquilo que aconteceu na Ucrânia, em 1986. Este desastre ocorreu entre 25 e 26 de abril no reator nuclear nº4 da Usina Nuclear de Chernobyl, perto da cidade de Pripyat, no norte da Ucrânia Soviética, que também era próximo da fronteira com a Bielorrúsia Soviética. O acidente ocorrera na madrugada durante um teste de segurança. Uma combinação de falhas e erros durante esse teste, resultou em reações descontroladas no núcleo do reator. A explosão faz com que seja espalhado grafite no ar livre, sendo o grafite portadora de níveis altíssimos de radiação. O incêndio foi finalmente contido em 4 de maio, mas os estragos já haviam sido feitos. Os níveis de radiação foram sentidos principalmente nas partes da União Soviética e na Europa Central, chegando até Alemanha. O número total de vítimas, incluindo os mortos devido ao desastre, ainda é uma questão controversa e nunca é certo o total. Só para piorar há quem aproxime que esta detonação nuclear liberou mais de quatrocentas vezes mais material radioativo que o bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.
Esta série começa com uma prolepse da narrativa, dá-nos o personagem principal, o cientista Valery Legasov, a escrever o que havia descoberto, e quem era o real responsável pela explosão nuclear, sendo essa a introdução da história, depois leva-nos para momentos antes do acontecimento. Gostei desta forma de interpolação da narrativa. Durante os episódios adjacentes, o início iria se justificar muito bem, como peças de puzzle fossem encaixando e fazendo a imagem final. Gostei também do facto de criarem e introduzirem histórias, que sendo verídicas, iriam dramatizar ainda mais o impacto que a radiação viria a provocar, não só humano mas como geográfico. Chernobyl é inabitada até aos dias de hoje, e quem for lá visitar, ainda pode encontrar restos de presença humana, de atos do quotidiano inacabados, como uma mesa posta, pratos por limpar, roupa deixada no chão, porque foi simplesmente dito às pessoas para saírem da cidade, largando as suas casas e tudo o que possuíam.
Contudo não mostra só os horrores provocados pela detonação nuclear, os corpos irreconhecíveis, as lágrimas derramadas, mas também um governo soviético envergonhado. Um governo que não queria assumir a culpa pelo acontecimento, não queria manchar a sua reputação. Mas à medida que o tempo passava, o tempo era mais escasso, e as perguntas eram postas em cima da mesa. Legasov e Ulana Khomyuk, física nuclear, muitas vezes eram repreendidos ou impossibilitados de saber mais, ou de conseguir certas informações pois eram reconhecidos como ameaças ao governo. Fez-me ver um aglomerado político mais preocupado com a sua aparência, com os seus resultados, manchados por um ego inflamado, um querer mostrar que são superiores aos seus inimigos, como é o exemplo dos Estados Unidos da América. Em toda a série, os americanos foram sempre vistos como alvo de inveja, sendo que os soviéticos não pediam nenhuma ajuda, não querendo mostrar fraquezas. E ainda acredito que essa parede exista até aos dias de hoje, mas será que uma cooperação não facilitava emergências como a que é recriada?
Outra coisa que gostaria de falar, e agora imaginem, uma área que originalmente se estende por 30 quilómetros em todas as direções da usina, denominada área de exclusão, ser retratada para filmagens. É de uma escolha de sítios fantástica, bem como os acessórios e ambientes, parecia que tinha voltado aos anos 80. O trabalho final é uma obra prima, e nem quero imaginar a quantidade de pesquisa e trabalho que foi projetado e feito por toda a equipa. Os planos estão muito bem conseguidos, as cores simbolizam aquelas que se obtinham nas câmeras antigas, dando um ar mais verídico à narrativa e os atores encaixam-se muito bem nas personagens em si.
Resumindo, dou os parabéns a esta série por mostrar um que foi dos piores desastres que aconteceu até aos dias de hoje, aniquilando vária gente. Recomendo vivamente a qualquer pessoa, porque para além de ser uma série que nos deixa indignados e agarrados ao visor, não deixa de ser uma aula de história para aquilo que se acredita ser o que se passou realmente na madrugada de 26 de abril de 1986, Chernobyl, Ucrânia Soviética.
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