O Rei Leão


Chega aos cinemas já no dia 18 de Julho, o tão aguardado remake do clássico Disney mais querido de todos os tempos, O Rei Leão. Baseado naquele que foi o filme de toda uma geração (à qual eu pertenço), teve em Portugal ainda mais impacto por ter sido o primeiro filme de animação a ser dobrado para o português de Portugal. Pessoalmente, a versão original de 1994 sempre foi e sempre será o filme da minha vida. Aquele que vejo quando estou triste ou quando estou feliz, aquele ao qual sempre volto. Quando éramos miúdos, eu e o meu irmão até sabíamos as falas de cor. Todas as falas! Hoje em dia ainda consigo reproduzir palavra por palavra o primeiro discurso de Scar ao pobre ratinho que tinha entre as garras, para não falar das músicas ainda bem memorizadas. As expectativas ao entrar na sala de cinema eram, obviamente, altíssimas. Cá dentro um misto de emoções furiosas e contraditórias. Uma curiosidade ardente por saber como seria adaptado o clássico e uma desconfiança psicótica de “por favor, não me arruinem a infância, já me bastou o “Rei Leão 2”...

Tive a oportunidade de ver este novo filme em formato 3D IMAX, o qual recomendo vivamente, já que, como constatei rapidamente nos primeiros poucos minutos, é o foto-realismo o verdadeiro rei desta produção. Feita inteiramente em estúdio, criaram o que pode bem vir a ser uma revolução no mundo da animação. Tudo, absolutamente tudo, é deslumbrante. As plumagens, as texturas, as paisagens, os movimentos, o comportamento animal. Desde as ervinhas à imponente “Pride Rock”, desde o mais mínimo mosquito ao majestoso elefante. A atenção dada ao detalhe mesmeriza-me e dou por mim já com lágrimas nos olhos ainda mal começou. Será o encantamento do 3D que me transporta para as infinitas savanas de África? Será a nostalgia de uma infância completamente feliz? Será a saudade de cantar em uníssono com o meu irmão o “Hakuna Matata”, no banco detrás do carro, a caminho do Gerês?

Apercebo-me rapidamente de que o filme será praticamente igual ao original. Quase cena a cena. Mas estranhamente, isso não me incomoda. Muitos se queixarão de que esperavam uma nova versão, algo diferente. Não. Na história do Rei Leão não se toca, é sagrada. Estou aqui para ver um remake do clássico, não o desastre que foi A Bela e o Monstro com as suas modificações sem sentido ou a salganhada que foi Aladdin... Porém confesso que o foto-realismo perde um pouco do seu encanto porque é-me difícil compreender as emoções na cara das personagens. Principalmente dos leões. Quando Mufasa cai no desfiladeiro, o horror na cara de Simba é praticamente imperceptível e apenas vejo um leão a abrir a boca, como os leões na realidade o fazem. Tento ultrapassar esta confusão, concentrando-me nos talentosos actores que dão voz às várias personagens. 

Comecemos pelo pior, e odeiem-me se quiserem, mas tenho de ser franca: Beyoncé está péssima como voz de Nala. As falas saem mecânicas, sem vida, como se estivesse a ler directamente de um guião. A música “Esta noite o amor chegou” é uma sombra da versão original, seja a inglesa ou a portuguesa. Para além do facto que toda a cena se passa à luz do sol, obviamente é de dia, não de noite como a música sugere. Donald Glover também ficou um pouco aquém das expectativas, esperava mais deste ator que esteve brilhante, por exemplo, em Solo. Mufasa é o mesmo de 1994 com o regresso de James Earl Jones ao papel. Especial destaque a Chiwetel Ejiofor (12 Anos Escravo) que traz uma personalidade completamente diferente a Scar, uma modificação que foi bem pensada. Na versão original, Scar é cínico, provocador, até gozão, características que só seriam perceptíveis numa versão mais cartoon. Este novo Scar é seco e manipulador, e ainda mais aterrador. Se vamos falar de aterrador não nos podemos esquecer de Shenzy, a líder das hienas que me deixou com calafrios. Florence Kasumba (Black Panther), tem uma voz que nos penetra as várias camadas da epiderme e é verdadeiramente a personagem mais terrífica desta nova versão. 

John Oliver é Zazu, com a sua voz naturalmente nasalada e cómica que encaixa que nem uma luva neste pássaro snobe mas com bom coração. Mas quem rouba o show, como se costuma dizer, é sem dúvida, Timon e Pumba. Atrevo-me a dizer até que prefiro o duo da nova versão! Seth Rogen nasceu para dar voz a Pumba e Billy Eichner é impecável como Timon. Os diálogos estão hilariantes e a química entre os dois é contagiante. Talvez façam um versão live-action de O Rei Leão 3 (proibido falar da nefasta sequela, O Rei Leão 2...), ou mesmo da série Timon & Pumba. Adoraria vê-los regressar, uma e outra vez. 

Jon Favreau, depois da experiência com a realização de outro live-action da Disney em 2016, O Livro da Selva, prova mais uma vez que sabe produzir êxitos de bilheteira. O conceito live-action é levado a sério, apesar de ser tecnicamente uma forma mais evoluída de animação. O estímulo visual é tão forte e variado que terei de voltar ao cinema para conseguir absorver tudo ainda melhor. 

A atenção ao detalhe e a lealdade ao clássico dos anos 90, por certo trará o público ao cinema, por muito que as críticas possam vir a ser menos positivas. 

Da minha parte, concluo que não suplanta o original, mas tal como na versão musical da Broadway, é uma obra de arte em si mesma e vale a pena ver e rever. Obrigada Jon Favreau e a todos os voice talents (excepto tu, Beyoncé…) por respeitarem o meu filme preferido e me fazerem regressar à golden age da Disney, que coincidiu com o que foi também a “época dourada” da minha infância.

Catarina Loureiro
Escrito por:

Autora. Artista. Cismadora.

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