Ilusão Perfeita de Jodi Picoult


O livro "Ilusão Perfeita" conta a história de uma mulher, Cassie, que sofre aparentemente um "acidente" e acorda no cemitério, a sangrar da cabeça, e é socorrida por um agente policial que acaba de ser transferido para L.A., chamado Will. Cassie não se recorda do seu passado, mas fica deslumbrada ao verificar que ela é a esposa do conceituado ator de Hollywood, Alex Rivers.

Por vezes, quem nos devia apoiar é quem nos destrói

O casal poderia dizer que vivia a relação perfeita mas quando Cassie encontra um teste de gravidez escondido no seu armário, a sua memória volta. Cassie foge de casa e vai ter com Will e conta-lhe que é uma antropóloga que trabalha na UCLA e que conheceu Alex, por coincidência, nas filmagens de um filme que eram nos arredores da sua investigação. Há entre os dois uma enorme atração e após três semanas cheia de amor, paixão e sedução; Alex acaba por pedir Cassie em casamento. Ao longo do livro é-nos contado a história deste casamento que já durava 3 anos, mas aquilo que devia ser o homem dos seus sonhos também era o seu maior pesadelo. Alex é um homem com um passado aterrador é uma pessoa emocionalmente desestruturada e um excelente ator. Alex não consegue separar a sua vida profissional da sua vida pessoal e sempre que desempenha um qualquer papel ele vive essa personagem 24 horas por dia. Se a personagem representada é um homem romântico ele será igualmente romântico no seu casamento, mas se é um agressor ele também terá esse papel no seu casamento. Cassie ama tanto Alex que não consegue resistir aos pedidos de desculpas, que se seguem sempre após as agressões de Alex sobre Cassie, tanto físicas como psicológicas.

A vida de Cassie é abordada de uma forma simples mas perturbado visto que é vítima de maus tratos e é designado no livro por: Síndrome da Mulher Abusada. Cassie frustrava-me no sentido que sofria agressões físicas do homem que amava, perdoava e voltava a cair no mesmo mundo de violência, tal e qual um ciclo vicioso; e eu, mesmo como mulher, não conseguia aceitar tal facto, sentia-me revoltada e talvez foi por isso que esta personagem me cativou tanto porque estava sempre a torcer que ela despertasse e que se libertasse daquele mundo cheio de violência. Apesar de a história da personagem principal ser muitas vezes impressionante e revoltoso, a escritora é eficiente na capacidade que tem de transmitir na perfeição todos os sentimentos e emoções da evolução de Cassie. Muitas vezes o leitor não consegue perceber a razão de certas atitudes da antropóloga mas também é verdade que o leitor não “sente na pele” aquilo que a personagem vive e realmente os seus sentimentos por Alex são muito fortes. É realmente perturbador quando tentamos conciliar todas as emoções que são despertadas durante a leitura, o amor, o ódio, a esperança, a ternura, o deslumbramento, a culpa, o medo, o sofrimento. Contudo, ao mesmo tempo é compensador acompanharmos a passo a libertação emocional desta personagem, bem como, o poder da amizade, a resolução dos seus conflitos interiores e a sua coragem de assumir as rédeas da vida.

Este livro mostra-nos dois mundos e duas culturas completamente diferentes – o mundo das celebridades em Hollywood e o da reserva de índios Sioux. A escritora abre-nos as portas para um problema que ainda hoje mata demasiadas mulheres por anos e que muitas das vezes é abafado pro quem sofre deste tipo de abusos e também é ignorado por quem vive lado a lado. O livro todo é um remoinho de sentimentos desde amor, a esperança, carinho e paixão que se misturam com a culpa, dor, ódio e medo e a perca de liberdade. A Jodie Picoult acaba por tentar destruir a ideia que a violência doméstica está diretamente relacionada com a posição social e ela mostra-o com a história de Cassie e Alex e outros exemplos que são demostrados no livro na sessão de grupo que a antropóloga participa.

Sobre o final do livro, acho que faltou algo. Devia ter desenvolvido mais porque não sabemos bem o que acontece a Cassie e a Will e fiquei com aquela sensação "Oh acaba assim? Então?". Apesar disto aconselho a leitura deste livro àqueles que sofrem silenciosos e com medo, e não tem audácia e a bravura de gritar bem alto e com todas as suas forças: “Chega!”. Este livro acaba por ser um hino de esperança, coragem e de fé para todos eles. Os livros de Jodi Picoult têm sempre como cenário e base problemas da sociedade atual e são sempre uma alusão para quem gosta de ler histórias com um combinado de romance e veracidade.
Cristiana Ramos
Escrito por:

Dividida entre o mundo da Ciência e o mundo Geek. Viciada em livros e viagens. Espectadora assídua no cinema, especialmente se aparecer um certo Deus com cabelos loiros. Adora filmes de terror. Louca por cães, mas eles são tão fofos! Romântica incurável (apesar de não admitir). Fã de Friends e Big Bang Theory.

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