Quando em 2000 foi lançado Unbreakable nada fazia antever o final que M. Night Shyamalan tinha preparado. Não sei se estava ou não preparado na altura, mas vou pensar que sim. A trilogia demorou 19 anos a estar completa e o segundo capítulo foi lançado apenas há três anos, contando que a história segue exatamente esses 19 anos, ficando altamente coerente tendo em conta os acontecimentos e a atual idade dos protagonistas. Há certos filmes que após o seu visionamento facilmente aqui escrevo sobre como foi a minha experiência, mas há outros, como é este o caso em que preciso de um bom tempo para saber exatamente aquilo que devo ou não dizer sobre o filme. Glass representa tudo o que de bom eu podia sentir e ao mesmo tempo um pedaço de mim sabe, ou pensa saber, que alguma coisa ficou a faltar. Shyamalan é um realizador capaz do melhor e do pior, conseguindo ter no seu reportório ideias tão originais e épicas que ficaram para sempre na história, tal como algumas pérolas que já ninguém se lembra. Neste caso, a trilogia aconteceu e ficou completa e os medos para este terceiro capítulo eram muitos, principalmente por ser um filme muito aguardado e quando este criador é colocado no spotlight nem sempre as coisas correm como o esperado.
Para o bem e para o mal, o último capítulo acabou por alcançar os cinemas e sofrer às mãos dos críticos, pelo menos em parte. É incrível como hoje está cada vez mais difícil de agradar estes senhores. Felizmente, por um lado, que não considero estar inserido neste conjunto de pessoas e sempre que aqui escrevo tento oferecer uma visão mais pessoal, mesmo que seja contrária ao que a 90% do planeta pensa e Glass é quase um bom exemplo disto mesmo. Apesar de tudo e de alguns problemas que possa apresentar foi um filme que me agradou e gostei mesmo de o visualizar. Procurei ir com as mais baixas expectativas possíveis, principalmente para não sair desiludido, e talvez por isso tenha saído com uma agradável sensação de missão cumprida nesta incrível e quase louca história. A capacidade em focar numa ideia que à partida parece tão banal e criar um ambiente tão real e carregado de interpretações tão distintas não está à altura de qualquer um, mas Shyamalan não falha uma vez mais. Unbreakable é um filme incrível, com uma ideia boa e algo louca; Split é uma sequela que funciona tão bem a solo como em continuação e oferece uma vista completamente distinta do primeiro capítulo, focando noutro personagem e ligando de forma suave ao antecessor, mas principalmente preparando terreno para o capítulo final; e Glass é inevitavelmente uma conclusão.
Como conclusão o filme funciona na perfeição, já sozinho fica algo difícil de entender algumas personagens. É fácil, para quem vá ver este título sem conhecer os restantes, perder-se com os irreverentes personagens principais e mesmo com os secundários. Se não conhecemos o primeiro filme, não sentiremos uma ligação tão forte entre David e Joseph Dunn, ou se não conhecemos o segundo como vamos compreender realmente todo o envolvimento entre Casey e Kevin. Além disso, não podemos entender completamente as ambições do Mr. Glass. A verdade é mesmo essa, pois para apreciarmos verdadeiramente este capítulo temos de estar completamente dentro do universo, por isso proponho uma pequena maratona antes de ver este filme e vão com certeza ter uma maior envolvência com tudo o que é retratado aqui. Sinto que tenho aqui uma campanha para “obrigar” todos os nossos leitores a visionar esta trilogia, mas longe disso, apenas quero mostrar como Glass é um título incrível se for acompanhado dos restantes e como será sem dúvida uma melhor e mais interessante experiência se o virem como ele foi feito para ser visto: como conclusão.
Nesta história vemos finalmente juntos os personagens de Bruce Willis, James McAvoy e claro Samuel L. Jackson, que depois das interações anteriores fazem criam aqui toda uma história de origem digna de qualquer super-herói. A forma como foi feita a interligação com a história começada há 19 anos foi de uma grande inteligência e funciona tão bem que mesmo não tendo sido pensada na altura do primeiro filme, aproveitou vários momentos registados anteriormente para conseguir de alguma forma fazer esta ligação da maneira mais lógica possível. Está realmente incrível e demonstra muito bem o tipo de trabalho que este realizador consegue fazer. A interação entre os personagens está muito bem construída e por isso é quase natural. Funciona bem e demonstra conexão, sendo sempre fiel aos acontecimentos passados. McAvoy tem de ser aqui destacado, porque mais uma vez cria um monstro de personagem. A forma como este representou a Horda - conjunto de 23 personalidades de Kevin - é tão incrível e o ator demonstra uma capacidade de adaptação instantânea que deixa qualquer um boquiaberto com tamanha classe e representação. Algumas das personalidades e mudanças chega a ser mesmo impressionante a transformação e sente-se realmente tudo o que essa personalidade transmite. Um trabalho incrível que merece ser destacado.
Glass está longe de ser o filme perfeito e ser visto sem qualquer backstory não oferece nem de perto uma experiência tão boa como ser visto como conclusão desta trilogia. Isto pode ser um problema e irá deixar muito do público confuso, pois grande percentagem das pessoas que entra na sala de cinema está apenas pela buzz gerado e não conhece nenhum dos outros dois filmes. De todas as formas está igualmente longe de ser um filme péssimo. Faz o seu trabalho e os personagens são incríveis. Conta uma boa história e mostra um grande trabalho na sua construção. A realização típica que M. Night Shyamalan está toda cá e vai com certeza agradar os fãs. Num todo, não é um filme que consiga dar uma nota incrível, mas agradou o suficiente para ser mais que razoável. Se ainda não foram ver Glass esta ainda é uma boa altura e não esperem mais por concluir esta saga. O filme não está tão mau como a crítica o pinta e de certeza que vai agradar a muitos. É um daqueles que ou se gosta ou se odeia, por isso nada como dar uma oportunidade e ter uma grande experiência, ou não.
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