Como atingir 1 milhão de espectadores no cinema português?


Foi na 4ª edição dos Encontros do Cinema Português, no dia 5 deste mês, que se encerrou o evento com o debate intitulado Como atingir um milhão de espectadores no cinema português?. Segundo o ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual) apenas 1,3% dos espectadores portugueses consumiram cinema nacional, em 2018. Em conjunto com a NOS foi feita uma sondagem do porquê do pouco interesse pelas produções nacionais. A conclusão da sondagem veio a trazer resultados que, apesar de não surpreendentes, deram muito que falar neste debate que se alargou por mais de hora e meia. Segundo os inquiridos, existe a preferência por comédias e a busca por atores de qualidade e bons argumentos. Como defeitos a apontar a lentidão dos filmes, os argumentos fracos e as más interpretações. Sendo as áreas a melhorar, a qualidade das histórias e a produção cinematográfica.

Reunidos, os principais representantes das entidades mais influentes a nível nacional e perante um público que contava com inúmeros realizadores, produtores, atores e prensa, tentaram chegar à solução de como aumentar o interesse do público. A opinião unânime era de que não será uma solução fácil. Não será tão simples quanto identificar um problema na interpretação, no argumento ou no ritmo narrativo e automaticamente resolver esses problemas. Tanto que não são apenas estes os factores que afastam o espectador das salas do cinema português. Na verdade a questão vai muito mais longe e não é só uma questão nacional. Ir ao cinema acaba por ser um luxo e o público acaba por escolher gastar o seu dinheiro em filmes (quase sempre americanos) que já se sabe à partida que valem o preço do bilhete: os chamados blockbusters

Também existe, claro, a questão da acusação de produções fraquinhas… num país onde quase não existem verbas para a educação, a cultura; não é de admirar que o cinema sofra e tenha de se desenrascar o melhor que pode com o pouco que tem. Os filmes nacionais bem produzidos têm sempre os mesmos nomes por trás, os chamados dinossauros. Ou as verbas vão sempre parar ao teatro revista ou às telenovelas. Teremos condições e, essencialmente, espaço para os jovens criadores, os novos talentos? Há que apostar, também, num leque de variedade de gêneros que agradem a vários tipos de público. A criatividade, o talento, as boas equipas: tudo isto existe já, faltam só as condições para que os projectos tenham força para avançar. Não nos podemos queixar da fraca aderência ao cinema português se muito pouco se lança anualmente.

Também foi discutido, no mesmo debate, uma necessária formação para o cinema. Começar pelo educar desde crianças, nas escolas, a consumirem produções nacionais. A criança antes de saber sequer ler ou escrever já consome o audiovisual: a imagem, o movimento e som. Não existe uma política básica de literacia cinematográfica, como em países como a Inglaterra, por exemplo.

Temos de continuar a apostar na diversidade, porque nem todo o cinema português é aquele estereótipo do filme lento e de intelectualismo não alcançável a meros mortais. Existe talvez uma necessidade de criar algo culturalmente relevante com que o público português se consiga identificar. No passado, os filmes que tinham mais popularidade eram os que falavam das pessoas normais e das suas vidas simples, como o Leão da Estrela ou o Pátio das Cantigas, filmes sobre o povo, deixando as tramas ultra dramáticas e espampanantes para o cinema americano. Neste novo século, existe a preferência pela comédia, o fantástico, o sci-fi e a qualidade acima de tudo. Somos um público exigente, como nação e já é hora de deixarmos o estigma do “cinema português é uma seca”. Prova disso foi o tempo agradável que passamos neste evento, com a apresentação de mais de 40 produções nacionais, a maior parte deles, extremamente prometedoras.
Catarina Loureiro
Escrito por:

Autora. Artista. Cismadora.

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