NOS4A2



NOS4A2 é a nova série de Verão da AMC baseada no livro "Nosferatu" de Joe Hill. Curiosamente, a série tem um forte tema natalício, por isso se anseiam por ver o Natal chegar mais cedo enquanto comem gelado de flip flops, esta pode ser a vossa série favorita. Talvez.

A história segue principalmente Charlie Manx (Zachary Quinto) e Vic McQueen (Ashleigh Cummings). Manx tem um carro muito especial (cuja matrícula dá nome à série) que usa para salvar crianças negligenciadas dos seus pais abusadores. Ele tira-as de casa e leva-as para Christmasland, um local ao fundo da St. Nick's Parkway onde há sempre chocolate quente e presentes todos os dias, onde não há preocupações, nem solidão, nem tristeza. Lá as crianças podem viver felizes com os seus amigos e sob os cuidados de Manx. Ah, mas esperem, esta é uma série dramática de terror. Pois, é verdade, os pais nem sempre ficam vivos e enquanto transporta as crianças também se alimenta das almas delas. É, assim está melhor.


Por outro lado, Vic é uma rapariga solitária que quer estudar arte na universidade assim que sair do ensino secundário. No entanto, entre o alcoolismo do pai, os desejos da mãe de ver a sua filha seguir a sua carreira como empregada de limpeza e o facto da relação entre os dois ser caótica, as ambições de Vic podem revelar-se inesperadamente desafiantes. Sei o que estão a pensar e sim, esta é a parte do "drama".

Então, como é que estas duas personagens se relacionam? Bem, numa tentativa de escapar ao ambiente familiar, Vic descobre que o mundo não é tão simples como ela pensa. Afinal, é um mundo onde existem pessoas com capacidades extraordinárias que milagrosamente se mantiveram escondidas. Assim, em segredo, elas conseguem romper o tecido da realidade e manifestar no mundo real produtos da sua imaginação. Vic e Manx são duas delas. Após décadas de "salvamentos", Manx finalmente mete-se com as crianças erradas e acaba por pôr algumas pessoas no seu encalço, incluindo Vic. Por outro lado, Manx quer algo de Vic e, sinceramente, acho que nem ele sabe o que é.



O ambiente está bem construído e o conceito e maquilhagem de Manx são interessantes, credíveis e algo aterradores. Logo à partida as peças estão todas no sítio para umas boas horas de aventura. E depois, como um grande balão cheio de ar que alguém solta sem dar um nó na ponta, a série dá umas cambalhotas no ar enquanto desincha produzindo sons flatulentos e termina por se esparramar contra a parede de forma pouco satisfatória.

Os primeiros episódios apresentam-nos o mistério e o terror e são claramente os melhores, na minha opinião. Ou melhor, são os que estão mais alinhados com o que nos é apresentado no trailer e na publicidade: algo com ritmo e adrenalina que produz uma sensação de terror e ansiedade. Nos episódios seguintes, a série entra no cliché em que tantas séries e filmes baseados em livros caem: o vocabulário. O que quero dizer com "vocabulário" são aquelas palavras e expressões que soam a algo inventado e pouco orgânico e que descrevem tudo neste novo mundo que nos é apresentado, desde pessoas com habilidades, objectos com poderes, locais especiais, etc. Por outras palavras, a série pára para nos explicar como as coisas funcionam, em vez de aproveitar o desconhecido para fazer aquilo que era suposto.

Uma das coisas que a série faz bem é mostrar as convicções de Manx e explorar o seu charme. Infelizmente, enquanto ele representa o lado do terror, Vic representa o lado dramático e oh, meu doce Deus... ela é tão aborrecida que me faz torcer pelo vilão. Sim, eu prefiro a adrenalina de ver uma espécie de vampiro raptar crianças usando um veículo vintage e ilusões de doçaria ao drama meloso de adolescentes que rodeia a nossa heroína.

As prestações dos vários actores são óptimas e credíveis e a história deixa-nos curiosos, mas apenas até ao ponto em que as personagens começam a tomar decisões tão ridículas que quase chegam a ser cómicas. Além disso, não usei a expressão "drama meloso" à sorte. O ritmo da série é absolutamente atroz. É tão lento que os episódios poderiam facilmente ser resumidos a 30 ou mesmo 20 minutos em vez dos típicos 45. No entanto, como Manx muitas vezes diz, "o caminho para Christmasland é pavimentado com sonhos", por isso talvez a intenção seja mesmo deixar-nos a dormir. Enfim, quero com isto dizer que não será fácil ver a série de uma assentada, apesar de apenas ter 10 episódios.

Como é óbvio, a série conta com os talentos de mais actores, apesar de nenhuma personagem ser particularmente captivante além de Charlie Manx e a sua moral questionável que nos deixa com a dúvida: Será que ele acredita mesmo que está a salvar as crianças?

Resumindo, a produção é boa e a série tem Stranger Things q.b. para merecer pelo menos uma vista de olhos aos primeiros episódios, mas se adormecerem e perderem os restantes, não se preocupem muito. A minha sugestão? Vejam dois episódios e imaginem o resto.
Se esta análise parecer demasiado sincera, não é por a série ser má, mas por ter desperdiçado o potencial que tinha e não ter correspondido às espectativas criadas.
Pedro Cruz
Escrito por:

"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...

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