Joker: Uma viagem pela toca de coelho


Joker é um thriller dramático realizado Todd Philips, escrito pelo próprio com Scott Silver e estrelado por Joaquin Phoenix.

A história segue Arthur Fleck, palhaço durante o dia, aspirante a comediante durante a noite. Todos os momentos da sua vida são passados a desejar trazer mais sorrisos a um mundo que teima em mandá-lo abaixo. Quando percebe que a piada afinal é ele, começa a descida por um abismo violento e negro.


Joker é pesado, desafiante e tem que dar que pensar. Se não der, algo está errado. A verdade é que a verdade depende do ponto de vista e, observando-a pelo prisma desta personagem, apesar dos crimes cometidos, conseguimos ver o sentido da sua loucura. Por isso mesmo, achei-o mais assustador que It Capítulo Dois, um filme de terror também lançado este ano. Afinal, It é fantasia, já os arrepios que nos percorrem a espinha à medida que acompanhamos Arthur Fleck na sua descida pelo ralo da insanidade é baseado na realidade de uma sociedade cada vez mais livre de empatia.


Não é, portanto, de admirar que este seja o primeiro filme de acção ao vivo relacionado com o Batman a receber a classificação R-rating nos EUA (conteúdo exclusivo para adultos) devido à violência e conteúdo possivelmente perturbador. Em Portugal, no entanto, o filme é considerado para maiores de 14, algo com que tenho que discordar fortemente. O palhaço no cartaz não significa que seja um filme para crianças. Exige maturidade.


Por outro lado, apesar da doença mental ser importante para a personagem e ter bastante foco ao longo da longa metragem, não é uma característica tão relevante que defina Arthur. Assim, o filme acaba por ser menos sobre a doença mental e mais sobre a solidão, algo com que todos nos podemos relacionar.

A acção passa-se na cidade de Gotham nos anos 80, mas como é típico do universo Batmanesco, há uma certa intemporalidade que faz com que vejamos todo um mundo atrasado e decadente sem nos afastar das personagens.

É essa proximidade e fácil ligação emocional que são assustadoras e é por isso que é necessário ter os neurónios ligados ao ver este filme.


Apesar de tudo, diria que esta obra incita a violência tanto quanto promove o consumo de tabaco, ou seja, nada mesmo, apesar da quantidade copiosa de cigarros que Arthur Fleck "ingere". Poderei estar enganado, mas creio que vivemos numa sociedade civilizada em que é possível ver um filme sem imitar as personagens no que toca ao consumo de substâncias viciantes ou propensão para andar à batatada.

Como é óbvio e como disse antes, há sempre várias perspectivas, mas eu acredito que esta obra não é sobre a fantasia de ver a justiça às mãos das vítimas, mas sim sobre a lição de ver os erros de quem as vitimou. Ou seja, não é sobre castigar quem erra, mas sobre aprender e evitar errar.


Além de Phoenix, o restante elenco contribui com prestações credíveis e também merecem palmas Robert De Niro, Zazie Beetz e Frances Conroy. 

O próximo filme baseado em personagens da DC será Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação De Uma Harley Quinn), que estreia a 6 de Fevereiro de 2020.
Pedro Cruz
Escrito por:

"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...

Sem comentários:

Enviar um comentário