Atlanta (Temporadas 1 e 2)



Atlanta é uma série criada, escrita, produzida, realizada e estrelada por Donald Glover. A história curiosamente passa-se na cidade de Atlanta e segue as vidas de dois primos que tentam vingar no mundo do rap, um como rapper e o outro como o seu agente. Mas, antes de mais, vamos voltar uns anos atrás. O meu primeiro contacto com Glover foi através dos sketches do grupo Derrick Comedy. Aí, as suas interpretações eram exageradas, mas num estilo muito característico que foi sendo refinado ao longo dos anos à medida que Glover saía do ninho e voava cada vez mais alto, fazendo-se notar na série Community e até no mundo de Star Wars (como Lando Calrissian no filme Solo). 

Em 2010, foi criada uma campanha por fãs e apoiada por Stan Lee para que Glover tivesse oportunidade de interpretar Peter Parker no filme The Amazing Spider-man. Apesar da campanha claramente não ter tido sucesso e o papel ter ido para Andrew Garfield, Brian Michael Bendis disse que o aspecto de Glover na série Community influenciou o aspecto de Miles Morales e eventualmente, Glover acabou por dar voz a essa personagem na série animada Ultimate Spider-man. Ainda no mundo do Homem-Aranha, Glover voltou a marcar a sua presença em Spider-man: Homecoming, onde vestiu a pele do tio de Miles Morales, marcando a primeira referência indirecta à personagem no universo cinematográfico da Marvel. 

A jovem estrela também se fez notar no mundo da música sob o nome Childish Gambino ("This is America", "Redbone") e ganhou fama como sendo um faz-tudo em Hollywood. No entanto, apesar de ser rapper, Glover preferiu interpretar o agente do rapper e, assim, voltamos ao tema deste artigo:

  

Em Atlanta, Glover tem o papel de Earn, um jovem falido que luta com todas as forças para se manter à tona. Quando o seu primo Alfred (Brian Tyree Henry, "Widows") lança uma música de rap que é relativamente bem recebida, Earn vê uma oportunidade e convence-o a deixá-lo ser o seu agente. E entra o drama. O que é que um agente sem contactos ou dinheiro consegue oferecer ao rapper? Será que o facto de serem primos será suficiente para que a estrela em ascensão continue a dar oportunidades ao agente inexperiente? Será que juntos conseguem alcançar uma vida melhor? Mas isso são negócios. Earn não quer apenas manter-se vivo, mas também ser capaz de criar uma família com Vanessa (Zazie Beetz, "Deadpool 2"). O último membro do elenco principal é Lakeith Stanfield ("Get Out", "Sorry to Bother You"), como um descendente nigeriano chamado Darius que serve de braço direito de Alfred e tem umas filosofias um pouco diferentes. 

A série conta até à data com duas temporadas cheias de um humor terrivelmente subtil, sarcástico e por vezes negro que facilmente se mistura com o drama da cultura negra no Estados Unidos da América. As drogas, os crimes, os estereótipos, as tentativas de quem vive nesse mundo de fugir dele e tudo o que os arrasta de volta quando estão prestes a conseguir. Apesar de haver uma história continua, os episódios da primeira temporada fazem lembrar um pouco os sketches do Derrick Comedy, porque além de terem estilos bastante fortes e distintos, cada episódio tem uma mensagem específica e não se prende à narrativa principal para a mostrar. 

Na segunda temporada, intitulada "Atlanta: Robbin' Season", a série muda um pouco de tom, fica mais negra, mais dramática, em detrimento do humor. Não deixa de ser engraçado, mas o espectador precisa de ter um sentido de humor mais sensível e talvez um pouco mais negro. Ambas as temporadas têm episódios dedicados a cada uma das personagens do elenco principal, onde temos acesso à sua perspectiva, aspirações, desafios e desventuras. Apesar de ser uma comédia, não é o tipo de série que arranque gargalhadas independentemente se começamos a ver do início ou ligamos a TV a meio. É o tipo de série que pede atenção, que tem twists e surpresas e que faz referência a temas actuais de forma crítica, mas geralmente apresentando um ponto de vista diferente daquele a que estamos habituados.
Pedro Cruz
Escrito por:

"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...

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