Acabei de Acabar

Assassin's Creed: Odyssey

PC

Assassin's Creed: Odyssey

Menos de um ano depois do regresso do franchise com o título Assassin's Creed: Origins, a Ubisoft decidiu brindar-nos com Assassin's Creed: Odyssey e lançar-nos numa nova aventura sobre uma civilização nunca antes vista na saga: a Antiga Grécia. Mas será que Odyssey se destaca o suficiente dos seus antecessores ou será pouco mais que uma cópia com sabor diferente?


O jogo abre introduzindo-nos na lendária batalha tão famosamente ilustrada no filme "300". Assim, entramos com grande ritmo na pele do rei general Leonidas I, enquanto ele lidera os espartanos contra os persas. Esta primeira sequência é uma perfeita amostra do que o jogo nos irá oferecer. Tem acção, caos, emoção e... muito pouca precisão histórica, especialmente no que toca aos movimentos de Leonidas, que se destacam por parecem inspirados em artes marciais asiáticas. Assim, a primeira impressão é boa, mas pode gerar sentimentos conflituosos. 

Depois dessa breve introdução, e tal como num jogo do Pokémon, somos confrontados com a primeira de várias escolhas: queres ser menino ou menina? No fundo, se formos jogar o jogo uma única vez, poderemos assumir que Alexios e Kassandra teriam caminhos diferentes. No entanto, se optarmos por explorar as duas opções vamos perceber que a diferença não é mais do que estética e que a história é exactamente igual. Por esta altura, torna-se confuso se o próprio conceito de "personagem" se aplica ou se Alexios e Kassandra não serão meramente "avatares". Fico com pena que a Ubisoft não tenha aproveitado para tornar este o primeiro grande jogo da saga com uma única protagonista feminina, até porque teria sido mais simples para todos.


Optei por Kassandra e, para evitar confusões, vou passar a referir-me à protagonista por esse nome.
Vendo a história a desenrolar-se, percebi que essa foi a melhor escolha. Claro que idealmente seria irrelevante e, no que toca a relações com outras personagens, é. Aliás, um jogo que mostra o quão irrelevante é o género do herói é até algo inspirador. Por outro lado, a personagem principal é uma guerreira mercenária e, nessas condições, Kassandra irá sempre gerar mais empatia da nossa parte.


Continuando dentro do tópico das escolhas, essa é uma das grandes novidades de Odyssey. Pela primeira vez, Assassin's Creed traz-nos uma história moldável consoante as escolhas feitas pelo jogador. As aventuras e missões podem resultar em fracasso, podendo levar a pequenas alterações no futuro ou simplesmente à não obtenção de recompensas. É até possível resolver conflitos com base em diálogo em vez de andar à batatada e os inimigos que poupamos podem mais tarde revelar-se bons aliados. O poder das escolhas é real e verdadeiramente interessante e diverti-me muito mais a tentar evitar lutas que a lutá-las. É possível carregar jogos recentemente guardados e testar um pouco os efeitos das escolhas sem ter que recomeçar o jogo do início. No entanto, o mecanismo automático de gravação é errático, pelo que guardar o jogo manualmente em momentos-chave pode poupar muito tempo.


É difícil avaliar a história, visto que vai sempre variar um pouco com os caminhos escolhidos, mas o início será sempre igual. Kassandra tenta salvar Alexios, o seu irmão mais novo (caso seja essa a nossa escolha de protagonista, caso contrário será o oposto), de ser atirado de um penhasco, mas acabam por cair os dois. Anos mais tarde, Kassandra cresceu como órfã, tendo abandonado a nação e perdido a ligação com sua família. Portanto, adivinhem lá qual a principal motivação dela. Adicionalmente, e como sequela de Origins, Odyssey continua a linha temporal moderna que segue Layla Hassan, sendo essa a única ligação ao grupo secreto dos Assassinos.

A maioria das missões secundárias relaciona-se tão perfeitamente bem com a história principal que fui apanhado de surpresa quando esta última terminou. Ao ver chegar o fim da jornada, tanto fiquei com uma sensação de concretização como com uma sensação de "pontas soltas" que tanto deu vontade de continuar a jogar como fez a principal aventura de Kassandra parecer curta e com menos valor. Além disso, ao completar as restantes missões e desvendar mais do antigo mundo grego, tive ainda a sensação de que atingia "o final" várias vezes, apenas para ser lembrado que ainda havia mais para explorar. No fim, a verdade é que há muito conteúdo interessante e até aparentemente coeso, mas não pude deixar de sentir que havia várias histórias paralelas misturadas à força. É como se fosse um puzzle e fosse nossa obrigação manter o princípio, o meio e o fim na ordem correcta.


Kassandra é uma mercenária, faz tudo (ou muita coisa) por dinheiro e, nesse aspecto, é idêntica ao protagonista de Assassin's Creed: Black Flag, jogo esse que também inspirou uma parte importante deste novo título: a batalha naval. A mecânica voltou, quase tal e qual como era antes: Kassandra usa um navio (o Adrestia) para atacar outros navios, que pode simplesmente destruir ou assaltar. Apesar de não ser novidade, é uma parte do jogo da qual tinha saudades e que faz o mundo do jogo parecer maior do que em jogos como Assassin's Creed: Unity ou Assassin's Creed: Syndicate, onde os ambientes eram muito mais detalhados, mas mais claustrofóbicos por a acção se passar dentro dos limites de uma cidade.

Em termos de jogabilidade, o estilo RPG ganhou ainda mais força, introduzindo técnicas específicas que podem ser activadas quando se tem "mana"... ahem... "adrenalina" suficiente. Mais uma vez, nada que nunca se tenha visto antes. Se, por um lado, é difícil resistir à tentação de usar certas técnicas da heroína para avançar mais depressa no jogo ou simplesmente ver inimigos a abandonar o ecrã em voo, por outro parece batota. Não há absolutamente desafio nenhum em infiltrar um forte quando o herói se pode tornar invisível, lançar setas explosivas ou mandar oponentes pelo ar ao pontapé. Como é óbvio, fica ao critério e humor de cada jogador.


Odyssey traz um modo de exploração que desliga marcadores e guias que tipicamente ajudam a completar missões. Isso faz com que tenhamos que prestar atenção aos diálogos e ambiente, o que torna o jogo mais desafiante, mais imersivo e mais... bem, ao estilo de outros RPGs. Para ajudar ainda mais nesse aspecto, sugiro reconfigurar as opções para desabilitar alguns elementos do HUD (em inglês "heads-up display"). 

Apesar dos erros (bugs e glitches) não serem numerosos, parece haver muito conflito quanto à direcção que o jogo deveria tomar. Temos grafismo detalhado cuja imersão é destruída por uma panóplia de elementos inúteis como pontos de dano a surgirem no ecrã; temos uma história rica e claramente inspirada que se estica, rompe e embrulha por todos os lados ao tentar ligar demasiados elementos distintos e cobrir todo o mapa; temos os já familiares sotaques locais e diálogos povoados de palavras na língua nativa das personagens arruinados por expressões modernas americanas; e, por fim e pior de tudo, tínhamos a oportunidade de ter uma personagem carismática e forte que acabou por perder o própria identidade a favor de tentar cativar um público diferente sem perder o mercado dos rapazes pré-adolescentes.


De uma forma geral, o panorama pintado nesta tela parece ser bastante idêntico ao de Origins com uma forte componente de Black Flag à mistura, tanto em termos gráficos como de jogabilidade.  Além disso, enquanto Origins nos foi mergulhando lentamente na mitologia egípcia, Odyssey atira-nos de cabeça para a grega, com monstros a surgirem sem razão aparente.

Apesar dos vários jogos de Assassin's Creed conterem uma mistura de ficção histórica e ficção científica com figuras e eventos reais, a fantasia mitológica aliada ao facto da acção se passar numa época anterior aos Assassinos (contrastando com o título na capa), torna este o jogo menos "Assassin's Creed" da saga. Isso não impacta necessariamente a qualidade, mas irá mais facilmente criar novos fãs do que manter os antigos.


Concluindo, o ambiente é interessante, os gráficos são espectaculares, a história é atraente e o mapa é tão ridiculamente grande que mesmo muito depois de terminar o jogo ainda não o desvendei todo. No entanto, há pequenos (grandes) detalhes que destroem a sensação de imersão.

Nota: As imagens foram retiradas do jogo a correr em Windows 10, num computador com processador Intel Core i7-6700, placa gráfica Asus Strix GTX 980, SSD Samsung 850 EVO e 32GB de RAM.
Pedro Cruz
Escrito por:

"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...

Sem comentários:

Enviar um comentário

Segue no Instagram @cafemaisgeek

Parceiros/Colaborações