Adeus, Professor


Chegou às salas de cinema portuguesas, no dia 1 de Agosto, o filme Adeus, Professor. Protagonizado por Johnny Depp, conta-nos a história de um homem que, deparado com a notícia de um cancro terminal, opta por rejeitar o tratamento e decide viver os seis meses de vida que lhe restam de forma desmedida e inconsequente. Abusa do álcool, experimenta drogas, e até explora novos territórios sexuais. Talvez se o papel fosse interpretado por um ator diferente, estaríamos perante um simples drama que nos rouba uma lágrima ou outra. Mas a definição mais correcta terá de ser algo no campo de uma “comédia depressiva”... É complicado descrever, na verdade. Nesta interpretação improvável do ator, é fácil reconhecer traços de anteriores papéis icónicos, como Jack Sparrow (Piratas das Caraíbas) ou até mesmo Willie Wonka (Charlie e a Fábrica de Chocolate), conferindo-lhe um tom cómico, apesar do assunto ser pesado e este professor universitário estar claramente numa espiral de autodestruição. 

Richard Brown (Johnny Depp) no mesmo dia em que descobre que lhe restam apenas meses de vida, tenta contar à família, mas a filha Olivia (Odessa Young) confessa ser homossexual e fica a saber que a sua mulher Veronica (Rosemarie DeWitt) tem um caso com o patrão, um homem que Richard despreza ardentemente. Face à reacção vergonhosa da mulher, que vê na opção da filha nada mais do que uma chamada de atenção, decide guardar para si. Acaba por partilhar apenas com o seu melhor amigo Peter (Danny Huston), também professor. A presença do fim eminente, trará a este professor de Literatura Inglesa, uma desinibição que o torna num homem arrogante e rude. Mas a sua honestidade crua acaba por atrair as pessoas à sua volta que se fascinam com o seu desdém delicioso pelas regras da sociedade. Nomeadamente os seus alunos que ora ficam completamente incrédulos, ora bebem as suas palavras. 

A trama não é de todo original. Conseguimos encontrar paralelismos com filmes como Beleza Americana em que um homem na casa dos 50 atravessa uma crise existencial, ou até mesmo O Clube dos Poetas Mortos em que um professor de espírito livre, rompe com os dogmas numa universidade recheada de casacos tweed e velhos catedráticos ultrapassados. Wayne Roberts, argumentista e realizador que conta com apenas um outro filme indie, Katie Says Goodbye (2016), terá tido todo este conceito pensado para um romance, até que finalmente terá optado for escrever directamente um guião para filme. Nota-se que Roberts é um bom escritor, porém falta algo ao filme. A interpretação excelente de Johnny Depp ajuda bastante, mas existem alguns problemas tal como o destaque de personagens que são desnecessárias no desenrolar da história. Isto acontece por exemplo com uma das alunas, Claire (Zoey Deutch) que quase é um interesse amoroso, mas por alguma razão, o filme perde o fio à meada e não temos continuação. Para além do desperdício da veterana Rosemarie DeWitt a quem lhe é dado o papel de femme fatale mais cliché que tenho visto nos últimos tempos… 

O filme acaba em aberto e francamente um pouco confuso. Ao aperceber-se de que será um desperdício viver o pouco tempo que lhe resta num rodopio de excessos, decide deixar para trás algo parecido a um legado. Aos alunos deixa a mensagem de que sejam sempre extraordinários num mundo inundado de pessoas comuns. O discurso final é bonito e inspirador, mas lembra-me demasiado a personagem de Robin Williams. Abraça o seu amigo Peter uma última vez e faz as pazes com a mulher Verónica. À filha aconselha a ser ela mesma e não se conformar. Com um último adeus, parte sem destino.

Se recomendo este filme? Sim. É bonito e o seu ponto mais forte é o estilo de comédia dramática que joga com as emoções, brincando entre o mais belo e o mais fatalista. Voltaria a ver? Sim, nem que seja por Depp que é provavelmente o ator mais versátil deste século. Não me canso de rever filmes como A Janela Secreta (2004) ou A Nona Porta (1999). É refrescante vê-lo retornar a papéis mais sérios. Já estávamos um pouco cansados dos intermináveis penteados loucos e piratas permanentemente bêbados, não?
Catarina Loureiro
Escrito por:

Autora. Artista. Cismadora.

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